segunda-feira, 1 de abril de 2013

Capítulo 1: A Ovelha


A raça humana, embora tenha a capacidade de manter registros e dados históricos que sirvam de futuras referências, que sirvam para nos guiar por determinados caminhos, ou para nos fazer refletir sobre os erros que cometemos, também costuma ter memória fraca e esquecer alguns erros. Por isso, vivemos uma história cíclica. Os erros que nossos ancestrais cometeram, nossos filhos, ou os filhos de nossos filhos, os os filhos dos filhos de nossos filhos cometerão. E lamberão os dedos com o sangue dos inocentes, e rirão de sua glória, e então, a razão será perdida outra vez, até que possa ser novamente alcançada.


Era uma fria noite inverno no ano de 1990. Nino tinha apenas 7 anos de idade. A hora se aproximava das doze badaladas que qualquer relógio mecânico de parede faria.

Lana era bastante conhecida na igreja que frequentava todos os dias há quase quatro anos. Muitos sabiam de sua vida, suas necessidades, inclusive os pastores e dirigentes. Lana não tinha uma casa para morar. Tinha um filho, Nino, que ficava com diferentes famílias que conhecera na igreja, assim como sua mãe, a avó de Nino. A criança ficava uma semana com uma família, outra semana com outra família. Isso começara à dois anos.

Mais cedo, Nino e Lana, sua mãe, estiveram em um fervoroso culto da igreja em que eventualmente se encontravam e matavam a saudade após dias sem se verem. Naquela noite, no entanto, Nino e sua mãe não sabiam onde repousariam. Estavam em um ponto de ônibus localizado em uma praça próximo à igreja e viam aos poucos os irmãos e irmãs tomando a lotação que as levaria para o conforto de seu lares.

Sentados em um banco de cimento, mãe e filho sentiram no estômago o vazio da fome. O vento sul passava e deixava aparente nos braços da criança o arrepio do frio.

- Mãe, onde vamos dormir hoje?
- Ainda não sei meu filho. Deus proverá um lugar pra gente passar a noite.
- Eu estou com fome. A senhora está?
Uma lágrima desce pelo rosto da senhora de traços marcantes que segurava a pequenina mão menino.
- Mamãe também está, mas a gente vai comer algo logo, logo.

O ponto de ônibus já estava vazio, no entanto, o desespero não tomou conta dos dois. Em um determinado momento, a mulher se lembrou de um lugar que poderiam passar aquela noite. Tomaram um ônibus e foram-se dali.

Chegaram em um lugar pobre. Aos poucos, as casas de alvenaria foram dando lugar a casas de madeira. A escuridão estava cada vez mais densa, mas ainda era possível ver uma ponte de madeira que dava acesso às palafitas. Pronto. Tinham chegado a um lugar que poderiam se abrigar do sereno e passar a noite juntos. Mãe e filho.
Para os dois, aquele era um momento raro. Um momento de felicidade, afinal, não era todo dia que podiam dormir juntos. Davam graças à Deus por essa oportunidade.

Entraram na palafita escura. Havia um colchão. Dormiram juntos. E a fome? Sinceramente...não lembro...

Um comentário:

  1. Ganhou um fã. Sinceramente comovido aqui. Parabéns. Por tudo. De verdade.

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