segunda-feira, 1 de abril de 2013

Capítulo 2: Os ovos da galinha azul

A situação não mudou. Dia após dia, semana após semana, o pequeno Nino sentia uma grande tristeza. Não eram raros os momentos em que refletia sobre as canções que entoava na igreja. Uma delas dizia “sou feliz. Sou de Jesus, Jesus é meu“, mas Nino não era feliz. Não entendia o sentido da palavra felicidade.

“Minha felicidade é ter Jesus no coração“, pensava às vezes, mas um vazio se avolumava em seu peito e Nino não entendia como um Deus tão rico, tão forte e tão poderoso podia permitir que ele não tivesse uma casa para morar. Aos sete anos já era para Nino saber ler, mas o vai-e-vem diário não permitia que ele ficasse em uma escola. Embora sem educação garantida, Nino aprendia costumes diferentes com as famílias que ficava.

Uma marca de tempero para alimentos havia iniciado uma promoção. “Leve uma quantidade de temperos e ganhe nosso mascote“, uma simpática galinha em miniatura que botava ovos de plástico.



Nino estava com sua mãe e a família que abrigá-lo-ia por umas semanas no supermercado. Com eles, havia um menino, Washington, de quatro ou cinco anos.
A família era de posses. Tinha uma fábrica de móveis. As crianças, Michele e Washington eram sortudas. Tinham pai, mãe presente e muitos brinquedos e naquela noite adicionavam mais alguns à sua coleção.

Nino ganhara de sua mãe uma galinha, assim como Michele e Washington. Despediu-se de sua mãe com um abraço apertado. Não sabia quantos dias iria ficar sem vê-la. Entrou no carro e foi com eles. Cada um com sua galinha. Ao chegar na casa da família, foi logo sendo arrastado para o quarto por Washington.

- Vamos! Vamos! Tenho um monte de coisa pra mostrar!
Falava animado o pequeno sortudo.
Nino entrou em um quarto bonito. Uma caixa à esquerda denunciava a quantidade de mimos que o pequeno Washington recebia.

Washington puxou a pesada caixa de brinquedos e colocou alguns no chão. Nino pegou a galinha que tinha. Brincaram um pouco. Washington então decidira parar. Não queria mais brincar. Pegou seus brinquedos e a galinha de Nino.
- Hey! A galinha é minha! - disse Nino.

Começaram uma disputa por uma galinha de plástico. Nino já sabia que era uma batalha perdida.  Pegou os ovos da galinha na vã esperança de que Washington, que já começara a gritar, reconhecesse seu erro. Levantou-se e tentou correr. Washington o agarrou gritando que queria os ovos. Com alguma dificuldade, Nino conseguiu se livrar de Washington. Correu em direção à saída do quarto. Atravessou-a puxando a porta pela maçaneta. Washington no exato momento em que Nino puxava a porta, colocara seu braço entre a porta e o batente para impedir que ela se fechasse.

- O que você está fazendo?
Era a mãe de Washington. Senti um calafrio subir a espinha e as bochechas queimarem de vergonha.

- Seu monstro! - ouvi aquela voz autoritária e em tom acusativo.
Abri as mãos e lentamente soltei os ovinhos. Eu não tinha argumentos, nem precisava mesmo da galinha...só precisava de um teto para me abrigar.

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